(parte do texto publicado no caderno)
Artesão de miniaturas em madeira
-“Gosto do cheiro da madeira”.
Em poucas palavras, Paulo Marques explica o tempo que dedica ao desbravamento dos paus e troncos de madeira, para os transformar em objectos de arte.
Nunca foi carpinteiro mas sabe manobrar muito bem o trado[1], a plaina[2], o formão[3], o canivete, o martelo e a serra.
Para fazer as miniaturas utiliza uma madeira qualquer mas reconhece que “o castanheiro é bom de trabalhar e o carvalho é muito duro”.
Nas muitas miniaturas que integram a colecção particular que guarda na garagem, tem peças em madeira de castanheiro, carvalho, pinho, freixo e giesta.
Quando corta cavacos costuma guarda “alguns bocados” que lhe possam dar jeito para alguma peça.
-“Há bocados que não me deixa queimar, para os utilizar nos trabalhos que faz”, explica a mulher, Maria de Lurdes.
E acrescenta:
-“Às vezes compra madeira para fazer as miniaturas. É muito habilidoso e gosta das coisas bem feitas”.
Paulo Marques confirma:
-“Gosto das coisas bem feitas de forma a que imitem os objectos verdadeiros. Se não estiver do meu gosto sou capaz de estragar as coisas três e quatro vezes”.
Desde que começou a fazer miniaturas, ainda estava em França, passa horas esquecidas à volta da madeira.
-“Estas coisas dão muito trabalho, levam muito tempo”.
Enquanto trabalha gosta de ouvir música, de preferência popular portuguesa.
- “Faço os objectos e ouço música e nem dou conta de passar o tempo”.
Guarda com todo o cuidado os carros de vacas, arados, grades, corsos, cambões, cangas, ancinhos, manguais, alqueires, esteios, britadores, cancelas, bancos, tábuas de lavar, argadilhos, francelas, pás de forno, masseiras, tabuleiros, etc. Não gosta muito de mostrar aquilo que faz e nunca atribui preço às peças.
-“Não vendo nada daquilo que faço, estou a guardar estas miniaturas para os garotos (filhos). Era capaz de fazer uma peça ou outra para oferecer mas para vender não”.
Reconhece que os “garotos” gostam do trabalho das miniaturas e até já lhe pediram para fazer umas prateleiras onde pudessem ficar arrumadas.
Até ao mês de Agosto deste ano (2012) nunca tinha apresentado as miniaturas em público e quase nunca as tinha mostrado a ninguém.
Foi por mera casualidade que o Centro Cultural e Social do Marmeleiro deu conta deste trabalho extraordinário que estava tão bem escondido. Apesar de alguma resistência inicial, Paulo Marques concordou em ceder, temporariamente, parte dos objectos para integrarem uma exposição, no âmbito da Festa de São Domingos.
Quem por lá passou gostou do que viu e traçou rasgados elogios ao artesão desconhecido. Muitas das peças expostas, mesmo fazendo parte de um passado recente, deixaram de fazer parte do dia-a-dia da maior parte das pessoas do Marmeleiro.
Quase sem dar conta, Paulo Marques está a fazer história dos objectos que marcaram a vida de tantas gerações desta aldeia do concelho da Guarda.
[1] O trado é um instrumento de aço em forma de espiral, que possui a extremidade inferior pontiaguda. Ao girar, o trado perfura a madeira.
[2] Plaina é uma ferramenta geralmente utilizada em carpintarias para nivelar e determinar a espessura das peças de madeira. A plaina de madeira tem uma base plana que sustém uma lâmina ou ferro disposto em ângulo em relação à base.
[3] Formão é um instrumento manual que possui numa extremidade uma lâmina de metal resistente muito aguçada em bisel, usado para entalhar ou cortar principalmente madeira, geralmente com auxílio de um martelo.
No próximo dia 13 de dezembro, quinta-feira, na Sala Tempo e Poesia da Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, pelas 18h00 decorrerá o lançamento do nº 32 da Revista Cultural Praça Velha e dos números 110 ao 114 da Coleção “O Fio da Memória”.
O 32º número da Revista conta com colaborações de Carlos d’Abreu e Emilio Rivas Calvo, Pedro Carvalho, João Carlos Lobão e António Carlos Marques, Rui Pissarra, João Bigotte Chorão, Manuel a. Domingos, Maria de Lurdes Sampaio, Carlos Barroco Esperança e Célio Rolinho Pires. O Portfolio é da responsabilidade de Daniel Margarido e a Grande Entrevista a Valentín Cabero Diéguez é conduzida por Fernando Paulouro. Poesia conta com a participação de Daniel Rocha e João Esteves Pinto. Recensões críticas de livros e cd’s incluem colaborações de José Manuel Mota da Romana, José Luis Lima Garcia, José Monteiro, Antónia Terrinha, Fernando Carmino Marques, Teresa Correia, António José Dias de Almeida, Adelaide Lopes, Joaquim Igreja, Antonieta Garcia, Manuel Sabino Perestrelo, Aires Almeida, e Pedro Pires. Este número termina com a já habitual Súmula de Atividades Culturais.
A Coleção “O Fio da Memória” contará com mais cinco opúsculos dedicados aos seguintes temas: “Cemitérios - A eternização da memória” de José António Afonso Rodrigues; “Asa de Azul” de Maria Afonso, com nota introdutória de Lusitana Ricardo; “Paulo Marques – artesão de miniaturas de madeira” de Francisco Pereira Barbeira; “Saberes e sabores da Faia– Açorda de bacalhau, uma tradição à mesa” de Vitória Brás e “Escape livre - O mais antigo programa de automobilismo na rádio em Portugal” de Helder Sequeira.